Ainda no clima do Oscar 2024, a edição de abril do Ciclo de Cinema e Psicanálisetraz o longa-metragem Vidas passadas (dir. Celine Song, EUA, 2023, 106 min, 14 anos), que concorreu a duas categorias no prêmio: Melhor Filme e Roteiro Original. O filme também foi o grande vencedor do Independent Spirit Awards 2024, uma das maiores premiações do cinema independente.
O longa conta a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância com uma conexão profunda, mas que acabam se separando quando a família de Nora decide sair da Coreia do Sul e se mudar para a cidade de Toronto. Vinte anos depois, os dois amigos se reencontram em Nova York e vivenciam uma semana fatídica enquanto confrontam as noções de destino, amor e as escolhas que compõem uma vida.
O Ciclo de Cinema e Psicanálise do MIS (instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo) é um programa mensal, em parceria com a Folha de S. Paulo, que apresenta um filme seguido de debate mediado por Luciana Saddi, coordenadora de cinema e psicanálise da Diretoria de Cultura e Comunidade da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Em seguida, o público pode participar com perguntas, integrando novas perspectivas sobre a obra discutida. Esta edição acontece no dia 16 de abril, às 20h, e conta com parceria da California Filmes e da Centro Cultural Coreano no Brasil. Após a sessão, acontece debate com as psicanalistas Beatriz Stucchi e Vera Iaconeli, com mediação de Luciana Saddi.
Vidas Passadas – por Luciana Saddi
“Escrito e dirigido por Celine Song, Vidas passadas narra a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), amigos de infância que se separam quando a família de Nora decide sair da Coréia do Sul. Vinte anos depois, reencontram-se em Nova York e assimilam, cada um, de acordo com experiências presentes, o sentido de destino, amor e escolhas que compõem uma vida.
Vidas passadas é um filme denso e delicado. Trata da passagem do tempo, dos lutos pelas perdas, do reconhecimento dos ganhos e, principalmente, do árduo trabalho psíquico que o amadurecimento requer. Na terra do nunca, pode-se brincar de “e se”, fantasiar a vida que não existiu. Devaneios sugerem criatividade quando empregados por escritores ou artistas, preconizam sonhos e desejos também. Muitas vezes, tal empenho de imaginação apenas retira da vida o visionário ou neurótico, que evita confrontar a realidade e transformar o próprio cotidiano.
Celine Song, ao combinar as posições de escritor criativo/neurótico, tece trama sutil em que o tempo – inexorável – é personagem principal, e, as escolhas que fazemos ao longo da vida, personagem coadjuvante. O destino revela o absurdo da vida e do inconsciente. Determinações históricas e desejos nos habitam. O contraste entre oriente e ocidente, homem e mulher são também linhas importantes na tecitura do enredo. No entanto, a responsabilidade por si é inevitável, e as consequências de nossas ações são irremediavelmente colhidas.”
Sobre as debatedoras
Beatriz Stucchi é membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise seção São Paulo (SBPSP). Docente do Instituto Durval Marcondes da SBPSP e coautora do livro “A psicanálise nas tramas da cidade”, lançado em 2009 pela Editora Casa do Psicólogo.
Vera Iaconelli é psicanalista, mestre e doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), autora dos livros “Mal-estar na maternidade” (Zagodoni, 2020), “Criar filhos no século XXI” (Contexto, 2019), “Manifesto antimaternalista” (Zahar, 2023) e uma das organizadoras da coleção “Psicanálise & parentalidade” (Autêntica, 2020). É colunista da Folha de S.Paulo e diretora do Instituto Gerar de Psicanálise.