Segundo a professora, as escolas que apostam na brincadeira como ferramenta de ensino conseguem os melhores resultados para a criança e para a família, sobretudo, quando essa aula com “brincadeiras” acontece em meio à natureza. “Quando a gente vem para um sistema de educação em que o brincar é a chave fundamental para se aprender, a maneira de trabalhar o conteúdo muda, e isso não quer dizer que não é uma escola com conteúdo forte. Aliar as duas coisas é fantástico”, garante Denise.

O aprender conteúdos fortes com brincadeiras, segundo a pesquisadora, que é diretora da ONE School,  escola bilíngue de educação infantil e ensino fundamental da Casa Thomas Jefferson, fortalece o lado socioemocional da criança. “A aprendizagem passa por aí. Quando o socioemocional vai se fortalecendo, essa criança tem mais facilidade de aprender. Se a criança é desafiada, ameaçada, ela bloqueia o processamento na parte executiva do cérebro. Quando traz o brincar, a criança relaxa e se engaja”, ensina. A ONE School, destaca Denise, aposta neste tipo de educação inovadora.

Em casa e na vida

Se apostar em uma escola onde a brincadeira é uma ferramenta de aprendizado faz a diferença na vida de uma criança, ter uma família que brinca com os filhos é fundamental; sobretudo quando se brinca na natureza. “E sem plásticos ou botões”, pontua a professora. Um dos exemplos é o fato de uma criança poder brincar com um graveto no parque e este graveto poder ser ou se “transformar” no brinquedo que ela imaginar. E, nesse contexto, a tela, o celular, é a antítese do que é saudável e estimulante, diz a professora.

De acordo com Denise de Felice, quando se coloca uma criança em frente a uma tela, ela imediatamente deixa de formar conexões neurais. Criança precisa de desafios, segundo a professora. “Criança precisa aprender a pegar uma tesoura, picar papel, lavar uma louça. Brincar com o filho é fantástico e se esse brincar acontecer na natureza, ninguém segura essa criança. No chão tem gravetinhos, folhinhas

O ato de brincar diante de um conteúdo acadêmico é tão importante e didático para uma criança quanto uma aula elaborada com os mais avançados recursos tecnológicos. Há décadas a psicologia já trata a brincadeira como uma forma de a criança resolver conflitos, reproduzir modelos e se projetar no futuro, na vida adulta. Mais recentemente as escolas não tradicionais, mas focadas em uma educação crítica, têm apostado na brincadeira orientada por especialistas em educação como uma ferramenta para formar estudantes mais criativos, imaginativos e, também, racionais, sem que uma coisa seja antítese da outra.

Apostar na brincadeira como ferramenta de educação e ensino é, inclusive, uma das maneiras de contornar um problema crescente na educação e que vem merecendo, cada vez mais, a atenção da comunidade científica: a medicalização da educação. Basta uma busca rápida na internet para  perceber a quantidade de teses e artigos científicos que abordam o crescente uso de medicamentos para crianças, adolescentes e jovens durante a vida escolar. É que muitas vezes, diante do desafio de aprender conteúdos áridos, de maneira tradicional, a criança e o adolescente são levados a um estado emocional estressante, que dispara gatilhos que desencadeiam quadros de ansiedade, depressão, irritabilidade ou apatia, entre outras síndromes.

Na avaliação da pedagoga e pesquisadora na área de neurociências da aprendizagem, Denise de Felice, quando a escola conteudista tradicional se depara com um estudante que está além ou aquém do esperado, muitas vezes, ela encaminha a criança para uma série de profissionais, como psicólogos e psiquiatras, em busca de auxílio para que o estudante “entre no ritmo” da turma. Em boa parte dos casos os pais dessa criança deixam o consultório com um receituário de medicação controlado nas mãos. É um caminho, mas a depender da situação, pode não ser a melhor solução.

Aprender brincando

Denise de Felice é mestre em Linguística Aplicada e estuda as interseções entre educação e neurociência, explorando como o cérebro aprende e assimila esse conhecimento para enriquecer abordagens pedagógicas inovadoras. Ela explica que existe uma estrutura no cérebro responsável pela sobrevivência. Quando o indivíduo se sente ameaçado, segundo ela, o cérebro tem reação instantânea. “Ou a pessoa congela, ou corre ou vai para cima e luta, para enfrentar o problema. Essas três reações não passam pela área frontal do cérebro, onde são processados os pensamentos de ordem mais elevados”, diz. 

“Quando se tem o brincar, ocorre o contrário, porque é prazeroso. O cérebro da criança é preparado, equipado para brincar e com o brincar esse sistema límbico do cérebro vai falar que não há ameaças”, explica. Segundo a especialista, quando não se sente ameaçada, a criança aprende mais. “O cérebro é um órgão que adora , coisas que caíram das árvores. Esse é o brinquedo não estruturado, que pode virar qualquer coisa”, diz, ao lembrar que quando esse comportamento familiar está em alinhamento com uma escola diferenciada, o resultado é um profissional adulto diferenciado e preparado para qualquer desafio.

Assessoria